terça-feira, 8 de setembro de 2009

Movimento Pela Igualdade no acesso ao casamento civil

O criado movimento pela igualdade segue a dicção de uma sociedade democrática, segue a coerência da igualdade de direitos de mulheres e homens ou simplesmente cérebros em corpos alfaiados nos desejos, com tensões visíveis, por nós mesmos e por outras e outros de nós, por seres, por caixas de inspirações, pela natureza ou pelo que nos externa.

O desejo pode ser o meu cuspo numa queda em directo chão da boca ou mesmo a queda de um mesmo motivo do útero, útero que tem que ser o que eu quero, é meu!; fígado que tem que ser o que eu quero, é meu!; escolha que tem que ser a que eu quero, é minha!
O desejo - esse despertar entre o corrimento de um certo sistema nervoso e de sangue- passa por todas as linhas do corpo-meu, pensar-meu, passa-me nas oblíquas , nas rectas, na música de qualquer instrumento que por descuido ou decisão engulo.

O movimento pela igualdade desperta a igualdade de acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, é um movimento recente, aonde devemos exigir-nos activistas e participar na sua subscrição, divulgação, na sua realização; este movimento deve estar por todo o lado, tem que passar e entrar em cada cidadã e cidadão que vivem nos afectos de uma sociedade ainda acordada pela imensidão de um ingrato preconceito; «desarmem os preconceitos» e ultrapassaremos o irritável aguentar-se pelo passo a passo, pelo passo a passo da liberdade distribuída, pelo passo a passo de uma democracia que deveria dar-se em vida pela igualdade de escolha de qualquer pessoa.

Temos que ultrapassar os fantasmas dos antigos-recentes que ainda fazem parte do catálogo dos bons exemplos a saber dos programas escolares; temos que ver que as coisas são assim porque até agora não houve escolha; temos que perceber que este pó dos anos pode ser limpo; perceber que a religião é o desastre de qualquer andamento, é o naufrágio de qualquer navegação, a religião é a morte do corpo e a condenação do acidente natural do pensamento.


Limpemos o pó da dor, discriminação, da desigualdade com que nos convertem os dias, que são meus, que são teus, são nossos os dias. Limpemos o pó da tradição do antigo-imitar que via no amor o princípio da loucura, o início de indefesa mortal, cinzas que nos perseguem por entre séculos e cá estamos nós - aqui- numa democracia senil e ainda há quem doutore o mau-olhado e suas superstições , há ainda quem defenda que a igualdade e a cura de qualquer crise está na troca de uma moeda por outra, de um poltrão por outro; mas enquanto a tradição não for interrogada - não por ser tradição- mas por ser indevidamente escura, enquanto a religião não for simples e tão-só uma coisa de cada pessoa, uma coisa que se espera e que aparece quando o limite do que se sente não assiste ao incendiar de cada estímulo, a audácia física; enquanto a religião for deus e a sua massificação das regras de quem acredita e deseja, enquanto for feita de imprudências que alimentam a separação bizarra de funções entre a mulher e o homem e mais grave a separação entre as pessoas, tal qual quando - em séculos distantes - papas enviavam os seus paus-mandados para destruírem as heresias e a magia negra, não fossem as pessoas morrer com pagãos pensamentos; enquanto assim for seremos coisa nenhuma, por não sermos todas e todos.

Chega de margens, de uma tradição sempre num reviver da mesma separação social, de uma religião católica ou qualquer que seja feita de excrementos das vozes de púlpito, instituição privada que quer diluir-se e contaminar a constituição e que escraviza os ritmos do desejo de pensamento, de corpo, de afectos; que tempera com incómodos pecados as entranhas; temos que ir mais longe; a linguagem, que desde cedo constrói e veicula as nossas atitudes, não vem de improviso, vem de necessidades forjadas pelo poder de pessoas como nós, pois então se a linguagem não chega a toda a gente, temos que perceber que não podemos passar no tempo e perdê-lo, estamos vivas, estamos vivos.

O movimento pela igualdade é um movimento que repensa os pilares da sociedade e por isso devemos pensá-lo, repensá-lo, tê-lo como um preparado que embebede esta hierarquia fogosa que diz-me que devo agarrar aquilo e não isto; a defesa do acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo tem que ser a defesa de qualquer pessoa que defenda os direitos humanos, que defenda a democracia, a igualdade social, porque não há explicação que possa regrar o que piso, o que toco, a transformação facial e intemporal de um riso, o que choro, o que desejo, não pode haver regra que regule o que me faz vir, o que vivo, o que morro, não pode haver regra que defina os afectos, os beijos, o dar de mãos ou sequer o mais subtil e impreciso roçar do sexo noutro.